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Aspectos gerais da cultura do café
Atualizado: 9 de fev. de 2021
Natalia Fernandes Carr, doutoranda do PPG Energia Nuclear na Agricultura CENA/USP, Fundadora do Conhecimento Agro
e-mail: natalia.carr@usp.br
Você sabe quem provou o primeiro cafezinho? Algumas lendas são relatadas e a mais interessante é sobre o pastor Kaldi que notou um ânimo diferente em suas cabras após comer os frutinhos do pé! Passamos a consumir o café da maneira que conhecemos hoje a partir do século XVI, hábito que foi desenvolvido pela cultura árabe. Existem diversas espécies de plantas provenientes do gênero Coffea, mas somente duas delas possuem importância econômica e são as mais produzidas ao redor do mundo. Por isso, vamos falar um pouco sobre as características das espécies Coffea arabica e Coffea canephora.
O café arábica (Coffea arabica) é originário da Etiópia (África) crescendo em sub-bosque de florestas tropicais, altitudes de 1.600 a mais de 2.800 metros, temperatura média anual de 20 °C e teor de cafeína presente nos grãos inferior a 1,5%. Esta espécie é responsável por aproximadamente 60% da produção mundial de café e é reconhecida por seu sabor adocicado e ligeiramente ácido. A espécie arábica é autógama, isso significa que as flores são fecundadas pela junção do pólen e óvulo da mesma planta! Diferente do café robusta (Coffea canephora) que é uma espécie alógama e por isso a fecundação ocorre entre as plantas.
O robusta é a segunda espécie mais cultivada no mundo, ela é utilizada principalmente na formação de misturas (blends) com os grãos de arábica e para produção de café solúvel. O café robusta é originário do Congo (África) crescendo em sub-bosque de florestas equatoriais, altitude de até 1.200 metros, temperatura média anual de 24-26 °C e teor de cafeína presente nos grãos inferior a 3%. Sua bebida é marcada por corpo volumoso e amargor acentuado. Vale destacar que por muito tempo o café robusta esteve relacionado com baixa qualidade de bebida, o que vem mudando após crescentes investimentos no manejo da cultura, principalmente na nutrição, agregando qualidade a bebida.
Das principais diferenças entre as espécies ressalto a rusticidade do café robusta, com sistema radicular mais vigoroso e volumoso – suportando melhor a falta de água e temperaturas mais elevadas. Essa rusticidade faz com que estas plantas sejam mais tolerantes também ao ataque de doenças e pragas. Apesar do desenvolvimento inicial mais lento do que o arábica, este arbusto multicaule uma vez que chega à maturidade, proporciona maior produtividade. Ao contrário do café arábica que dispõe de um monocaule e tem produtividade menor em relação ao robusta, entretanto torna-se mais atrativo devido ao maior retorno econômico.
Uma característica marcante de ambas espécies é a bienalidade! Este fenômeno ocorre pois as plantas em produção destinam grande parte da sua energia e alimento para o desenvolvimento dos grãos deixando de investir em novas folhas, assim no ano após uma alta produtividade a planta investirá em renovar suas estruturas vegetativas para aguentar as próximas cargas. O que não deve acontecer é deixar de lado os manejos, como as adubações e controles fitossanitários, em ano de safra baixa por já esperar uma queda de produção. Esta condição pode ser atenuada caso os manejos sejam realizados conforme a necessidade da cultura, no entanto a bienalidade sempre existirá!
A produção de cafés vai muito além do campo. Após a colheita, mesmo que bem-sucedida em produtividade, o processo de pós-colheita determinará se todo o trabalho realizado em campo será revertido em grãos que apresentem bebidas de qualidade ou não. A separação dos frutos, a realização ou não de fermentação, a secagem e o beneficiamento ainda são fatores que podem alterar as características do grão e da sua bebida, favorecendo notas sensoriais que agregam valor para o produto. A busca pelo conhecimento é essencial para que consigamos avançar na produção de cafés no Brasil, o curso de “Produção de Cafés – O Essencial do Plantio à Pós-colheita” oferecido pelo Conhecimento Agro (www.conhecimentoagro.com) contribui para o aumento da produtividade e qualidade do café. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de cafés, mas ainda temos muito para melhorar em toda a cadeia cafeeira.

Figura 1. Terreiro suspenso.